sexta-feira, 17 de julho de 2009

Aqui quem mandava era o coronel



Esqueça aquele perfil machão, bigodudo, de ossos grandes e postura imponente. O coronel que por aqui imperou por anos era uma figura de olhar meigo, bigode cirurgicamente talhado, ossos finos, que desfilava elegância e gentilezas. Só não podia ser contrariado. Joaquim Domit aportou em Valões em 1918, a pedido do governador Hercílio Luz, a fim de apaziguar o que restava da Guerra do Contestado. Gostou tanto que por aqui montou uma serraria na fazenda onde 11 anos depois veria concluído o casarão que hoje é museu estadual. Ali também tinha um moinho, que produzia energia que abastecia todo o povoado. Afinado com a mais alta estirpe política estadual, udenista de coração, Domit representou vários governos que confiavam em suas decisões. Assim, decidiu destinos e fez inimigos na mesma proporção que colecionou amigos. As opiniões sobre sua passagem por Valões são das mais contraditórias. “Muitos o amavam, outros o odiavam, mas todos o respeitavam”, conta Roberto Domit de Oliveira, neto de Joaquim, que hoje cuida do casarão-museu recentemente restaurado, um dos pontos turísticos da cidade, aberto a visitação, desde que com agendamento prévio.
Roberto conta que o casarão, muito mais que o valor histórico da construção, guarda passagens que remetem à história de Irineópolis. Era de dentro do casarão que saíam nomes de diretores de escolas, de delegados, inspetores e demais cargos públicos. Obras importantes para o município como escolas, o hospital, a delegacia, além do Batalhão de Engenharia e Combate e o Hospital São Braz, em Porto União, foram definidas no casarão.
Ali, o coronel – o título nada tinha de militar, já que era concedido a empresários que tivessem mais de 100 empregados – recebeu nove governadores e um presidente da República interino (Nereu Ramos, em 1958). A visita, descobriu-se mais tarde, foi como o pagamento de uma dívida de gratidão. Domit tinha sido padrinho de Nereu na maçonaria.
As histórias do avô, Roberto ouviu da avó, Sofia, já que Joaquim morreu quando ele tinha 11 anos, em 1968, aos 88 anos. Roberto perdeu a mãe (filha única do coronel com Sofia) cedo e acabou convivendo mais com a avó, que faleceu em 1992. Em 15 de agosto, sessão solene da Academia de Letras do Vale do Iguaçú será realizada no casarão como forma de celebrar o centenário do nascimento de Sofia e homenagear o coronel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário