sexta-feira, 24 de abril de 2009

O seminarista que virou prefeito


Quinto prefeito da história de Papanduva, Aloísio Partala fez ainda faculdade de Farmácia e foi militar

Edinei Wassoaski
PAPANDUVA

O amor que Aloísio Partala, 75 anos, sente por Papanduva, não vem de nascimento, mas é tão grande quanto o de qualquer nativo. Nascido em Itaiópolis, descendente de poloneses e tchecos, Partala foi o quinto prefeito da história de Papanduva, terceiro pelo voto popular.
Quando nasceu, Itaiópolis era um fervilhante centro de culturas e tradições europeias, tanto que Partala escreve e fala em polonês, o que aprendeu na escola polonesa que funcionava na colônia de Paraguaçu, onde nasceu.
Os avós desembarcaram por estas terras ainda no final do século 19. Deles, lembra uma frase professoral: “Os imigrantes lutam tanto para viver tão pouco”. De fato a vida na era fácil. O Governo vendia as terras a preços bem populares e a prestações de perder de vista a fim de estimular o desenvolvimento da região. Viver em uma localidade carente de tudo, no entanto, era sacrificante. Plantava-se o que se comia e o trabalho pesado judiava do corpo que não chegava a muitos anos de vida.
Seus avós vieram para o Brasil por conta dos atritos entre as nações europeias, que se acirravam à época. Em Itaiópólis foram mais de 100 famílias instaladas. “Eles recebiam ofertas de trabalho”. Escolheram Itaiópolis porque já havia gente de origem polonesa e ucraniana instalada ali. Iracema e Alto Paraguaçu São Pedro e Santo Antonio são algumas colônias europeias que se formaram na região.
Nesta época, Itaiópolis pertencia ao Paraná e ficava bem próxima da então localidade de Papanduva, que inicialmente pertencia a Curitibanos e em 1911 foi acoplada ao recém-emancipado município de Canoinhas.
Partala não ouviu seus antepassados falando sobre a Guerra do Contestado, mas lembra que a localidade de Queimados não tem este nome por acaso. “Os jagunços (guerrilheiros) juntaram um monte de gente numa casa, trancaram e tocaram fogo”, conta.

VIDA RELIGIOSA

Partala não poderia desejar melhor educação. Recebeu rígida formação de duas escolas das mais enérgicas. “Fui incentivado para ser padre”, conta. Tanto que foi para um seminário em Blumenau, onde estudou com Jorge Konder Bornhausen, com quem jogava futebol. “Ele era legal, mas não sabia perder”, descreve o colega.
Estudou também no convento de Rio Negro, onde começou a estagiar no hospital da cidade. Tomou gosto pelo serviço e desgosto pela carreira religiosa. “Acabei desistindo do seminário”.
De lá, Partala foi para Curitiba, onde fez faculdade de Farmácia. Em seguida, cumpriu o serviço militar também na capital paranaense, onde foi chefe de Farmácia no 2.º Batalhão Ferroviário de 1952 a 1961.
Ao sair do Batalhão, escolheu a recém-emancipada cidade de Papanduva para construir sua vida. Ainda em 1961 abriu a mais tradicional farmácia da cidade que inicialmente se chamou São Sebastião, para mais tarde, não por acaso, levar seu sobrenome, denominação que permanece até hoje. Partala foi o primeiro farmacêutico a abrir uma farmácia na cidade.
Sua esposa, Maria, foi a primeira professora do curso primário de Monte Castelo.

POLÍTICA PAPANDUVENSE

Partala participou ativamente do processo de emancipação político-administrativa de Papanduva. Cita com convicção a data de 11 de abril de 1954, quando o processo foi consolidado. “Tudo era muito distante. Canoinhas ficava muito longe. A emancipação era mais que necessária”. Partala lembra que Canoinhas chegou a ser o terceiro maior município do Estado. Nesta época, Irineu Bornhausen, pai de seu colega de seminário Jorge Konder, era o governador do Estado.
Partala nomeia todos os prefeitos que passaram pelo executivo papanduvense sem gaguejar. Ele lembra que Esmeraldino Almeida foi nomeado o primeiro prefeito da cidade. Recorda que durante o regime militar a cidade teve outro prefeito nomeado, Brasil Alves Fagundes (1964/1966), a quem Partala sucedeu. “Eu não via como ditadura mesmo, era ditadura para os desordeiros, que não queriam bem a sua própria pátria, esses eram os revoltosos”, opina.
Partala lembra que antes da revolução de 1964 chegava-se a pagar imposto por propriedade de bicicletas e rádios. “O agente do Correio vinha cobrar em casa e tinha de pagar”, afirma. O ex-prefeito tem uma posição bem clara sobre o governo militar. “Veio em boa hora, até atrasou, poderia ter vindo antes”, e emenda “O desenvolvimento da nossa região veio depois da revolução de 64. Até então a agricultura não tinha implementos agrícolas, era tudo artesanal”, conta.
Partala lembra que certa vez foi participar de um seminário em Porto Alegre-RS que reuniu mais de 700 prefeitos da região centro-oeste e sul do País. Ao ouvir um professor criticando o governo militar, Partala estufou o peito e contestou o professor. “Já tinha 30 anos de idade, sabia o que queria e o que eu queria dizer”. Partala chamou o professor de equivocado e mandou ele se afastar do Brasil. Pouco depois, o professor o procurou e se identificou como ministro das Minas e Energia e militar de carreira. O episódio mostra como os militares preparavam espécies de “armadilhas” para detectar subversores.

FARMACÊUTICO PARTEIRO

Na falta de um médico, Partala fez mais de dois mil partos. “Vinham me buscar de carroça”, recorda. Ele conta ainda que cansou de extrair balas de feridos por arma de fogo quando os tiros não atingiam órgãos vitais.
A dificuldade da época leva o farmacêutico a dar um conselho aos atuais prefeitos. “O povo quer saúde, isso é o mais importante”. Conselho que não pode ser desprezado considerando a digna carreira de um dos mais importantes ícones da história papanduvense.